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A alergia alimentar cresce a cada ano em todo o mundo!



Aproximadamente 200 a 250 milhões de pessoas no mundo apresentam alergia alimentar.


Em resumo, doenças alérgicas se desenvolveram em grande parte como resultado de mudanças no estilo de vida, levando a população a se tornar sensibilizada a proteínas estranhas irrelevantes. Inicialmente essas proteínas eram predominantemente polens inalados associados a rinite alérgica, com posterior extensão a alérgenos perenes do interior do domicílio, fortemente associados a asma. Mais recentemente, vários alimentos se tornaram o foco, sendo identificado que evitar a exposição oral é a estratégia errada para alimentos.


Estudos epidemiológicos sugerem que exposição no início da vida a fontes ricas e diversificadas de populações microbianas tem papel protetor. Estudos de intervenção em modelos animais mostram que a composição da microbiota intestinal modula a velocidade e o padrão de desenvolvimento do sistema imune e que a introdução de bactérias ou coleções de bactérias em particular pode reduzir a sensibilização alérgica. Portanto, a hipótese da higiene tem sido revisitada, com ênfase no estudo do microbioma.


De acordo com a hipótese da higiene, sinais provenientes da exposição ambiental (ambiente rural, de fazenda) e microbiota contendo bactérias mais abundantes e diversificadas, proveriam sinais intensos para o desenvolvimento de resposta regulatória (tolerância), enquanto que o ambiente urbano e/ou uma microbiota "ocidentalizada" não induz a este tipo de resposta, direcionando o balanço imunológico para uma resposta inflamatória. Tolerância leva a uma resposta imune saudável, enquanto que na sua ausência desenvolve-se um perfil inflamatório que pode levar à doença inflamatória das vias aéreas, como alergia respiratória e asma. De forma interessante, a composição e a diversidade da microbiota são afetadas pela dieta e medicamentos.


Identificação das funções desses microrganismos ou coleções de microrganismos protetores pode prover a base para o desenvolvimento de estratégias para prevenção primária da asma e outras doenças alérgicas.


O microbioma intestinal tem sido o mais estudado, sendo reconhecido como um instrutor importante da maturação imunológica.


Diferenças no microbioma intestinal de bebês e crianças que nasceram de parto normal versus parto cesáreo foram relatadas, e o nascimento por parto cesáreo foi identificado como fator de risco para várias doenças imunomediadas na criança, sugerindo que o padrão de colonização precoce é um fator ambiental importante para saúde e doença.


Acredita-se que o embrião saudável é estéril, obtendo as primeiras bactérias do canal de parto e trato intestinal maternos durante o parto natural. Estudo envolvendo 700 crianças participantes de uma coorte desde o nascimento, o Copenhagen Prospective Studies on Asthma in Childhood 2010 (COPSAC2010), revelou que o nascimento por parto cesáreo foi associado de forma significante com colonização do trato gastrointestinal por Citrobacter freundii, espécies de Clostridium, Enterobacter cloacae, Enterococcus faecalis, Klebsiella oxytoca, Klebsiella pneumoniae, e Staphylococcus aureus com a idade de 1 semana.


Já a colonização por Escherichia coli foi associada com parto normal. De forma interessante, com a idade de 1 mês estas diferenças eram menos proeminentes, e com a idade de um ano não havia mais diferença significante. Portanto, no parto cesáreo, a colonização inicial se originou principalmente de contato ambiental e com a pele materna, ao invés do contato com o canal de parto e região ano-genital da mãe, havendo a interrupção da transmissão vertical de bactérias da mãe para a criança. Um fato interessante é que nesta coorte dinamarquesa, 78% das crianças nasceram de parto normal, 12% por parto cesáreo de emergência e apenas 9% por parto cesáreo eletivo, um cenário bem diferente do encontrado em nosso país, em que atualmente predomina de forma marcante o parto cesáreo eletivo.




Fonte:


The allergy epidemics: why are allergies increasing in Brazil and worldwide?

L. Karla Arruda, Janaina M. L. Melo


MD, PhD. Faculdade de Medicina de Ribeirao Preto, Universidade de Sao Paulo, Ribeirao Preto, SP

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