Anafilaxia - conheça e previna!
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Anafilaxia - conheça e previna!



Conceito


A anafilaxia é a forma de reação alérgica mais grave, causando, inclusive, risco de vida, muitas vezes envolvendo comprometimento respiratório ou cardiovascular, com as manifestações apresentando-se em tempos diferentes.


Os sinais clínicos de reações alérgicas sistêmicas incluem urticária difusa e angioedema e podem envolver outros sistemas como o neurológico e o gastrintestinal. Os sintomas podem incluir dores ou cólicas abdominais, náuseas, vômitos, diarreia, broncoespasmo, rinorreia, conjuntivite, arritmias e/ou hipotensão. A rapidez com que os sintomas ocorrem se associa com a gravidade deles, podendo ser há poucos minutos da exposição.


A apresentação “clássica” de anafilaxia começa com prurido, rash cutâneo e urticária; essas manifestações cutâneas estão presentes em mais de 85% dos casos. Podem ocorrer também sintomas de vias aéreas superiores como coriza, prurido nasal e espirros, os quais são acompanhados por uma sensação de plenitude na garganta, ansiedade, uma sensação de aperto no peito, falta de ar, tontura; e a progressão dos sintomas pode levar a diminuição do nível de consciência, insuficiência respiratória, circulatória e colapso.


No exame físico, a presença de sibilos e estridor é comum. Na sua forma mais grave, perda de consciência e parada cardiorrespiratória pode acontecer. A queixa de “caroço na garganta” e a rouquidão prenunciam o edema de laringe com risco de vida em pacientes com outros sintomas de anafilaxia. Manifestações gastrintestinais incluem náuseas, vômitos, diarreia e dor abdominal em cólicas.


Na maioria dos pacientes graves, os sinais e os sintomas começam até 60 minutos após a exposição. Em geral, quanto mais rápido do início dos sintomas, mais grave a reação, conforme evidenciado pelo fato de que a metade de mortes por anafilaxia ocorre dentro da primeira hora. Depois de os sinais iniciais e os sintomas diminuírem, os pacientes correm o risco de uma recidiva de sintomas.



Diagnóstico


O diagnóstico de anafilaxia é feito pela história e pelo exame físico visto que exames laboratoriais são de pouco ajuda por não terem tempo hábil de resposta clínica. A anafilaxia deve ser considerada clinicamente quando o envolvimento de dois ou mais sistemas é observado, com ou sem hipotensão ou compromisso da via aérea (por exemplo, uma combinação de alterações cutâneas, respiratória e gastrintestinal ou cardiovascular). O diagnóstico é feito facilmente com uma história clara de exposição.


Critérios diagnósticos para anafilaxia foram elaborados por Sampson e colaboradores e incluem:


1. Início abrupto dos sintomas: ocorrendo de minutos a algumas horas com o envolvimento de pele, mucosas e, pelo menos, um dos seguintes: (a) envolvimento respiratório; (b) diminuição pressórica com sintomas de disfunção orgânica.


2. Ocorrência de dois ou mais dos seguintes sintomas após exposição a alérgeno: (a) envolvimento de pele ou mucosas; (b) envolvimento respiratório; (c) diminuição pressórica ou sintomas associados; (d) sintomas gastrintestinais persistentes.


3. Queda pressórica após exposição a alérgeno a que o paciente tem predisposição: o critério em adultos é pressão arterial sistólica (PAS) abaixo de 90mmHg ou queda de 30% dos níveis basais do paciente.


A presença de qualquer um desses três critérios torna o diagnóstico de anafilaxia altamente provável.


Diagnóstico Diferencial


O diagnóstico diferencial de reações anafiláticas é extenso, incluindo:


· Reações vasovagais

· Isquemia miocárdica

· Arritmias

· Estado de mal asmático

· Epiglotite

· Angioedema hereditário

· Corpo estranho

· Obstrução das vias aéreas

· Síndrome carcinoide

· Mastocitose

· Disfunção de cordas vocais


O diagnóstico diferencial mais comum de anafilaxia é uma reação vasovagal, que é caracterizada por hipotensão, palidez, bradicardia, sudorese, fraqueza e, às vezes, síncope. As manifestações asmatiformes apresentam no seu diagnóstico diferencial a própria asma, aspiração de corpo estranho, embolia pulmonar e síndrome da angústia respiratória aguda (Sara).


A mastocitose sistêmica e a leucemia de células mastoides também podem apresentar manifestações similares e são, necessariamente, diagnósticos diferenciais. O diagnóstico da anafilaxia é clínico e o achado de elevação dos níveis de histamina é inútil, já que eles podem já ter diminuído durante a dosagem.


Tratamento


Dada a possibilidade de desenvolvimento de complicações com risco de vida, reações alérgicas agudas devem ser triadas rapidamente no serviço de emergência. A anafilaxia, definida pelo comprometimento das vias aéreas ou hipotensão é, obviamente, uma emergência e deve ser rapidamente avaliada.


O manejo no serviço de emergência começa com o ABC primário (vias aéreas, respiração, circulação) e manobras de reanimação conforme a necessidade e deve-se obter um acesso venoso. As terapias de primeira linha para anafilaxia (por exemplo, epinefrina, fluidos intravenosos e oxigênio) têm efeito imediato durante a fase aguda da anafilaxia, lembrando que a epinefrina é a medida de maior importância no manejo da anafilaxia grave.


Os sinais vitais, o acesso intravenoso, o oxigênio, a monitorização cardíaca, a oximetria de pulso e as medidas devem ser obtidos imediatamente. Proteger a via aérea é a prioridade. A via aérea deve ser examinada quanto a sinais e sintomas de angioedema (por exemplo, edema de úvula, estridor, desconforto respiratório, hipóxia). Se o angioedema está produzindo desconforto respiratório, a intubação deve ser realizada prontamente, porque o atraso pode resultar em obstrução completa das vias aéreas.


Reações de hipersensibilidade a alimentos ingeridos são geralmente causadas por reações a proteínas alimentares IgE mediadas. A alergia alimentar não mediada por IgE também tem sido descrita. Produtos lácteos, ovos, nozes e marisco são alguns dos alimentos mais comumente implicados.


A história dietética detalhada no prazo de 24h de sintomas alérgicos pode fornecer as melhores pistas para alergia alimentar, com especial atenção para histórico de alergia e reações anteriores.



Texto: Dr. Rodrigo Antonio Brandão Neto - USP

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